RAQUEL BELLI

cruz jovem

Cruz Jovem

[PT]

2015

A Cruz Jovem e a Nossa Senhora Peregrina percorrem este ano todas as paróquias e Capelas missionárias pela Comemoração dos 500 Anos dos Missionários Portugueses em Timor, que em 1515 entraram em Lifau - Oecussi, enclave de Timor Leste.

Já sabia da em breve chegada da Cruz Jovem a Balide. Vivo ao lado da igreja. Quase todos os dias ouço sinos, coros, orações e, nos últimos dias, ensaios de bandas filarmónicas e grupos tradicionais.

Informei-me dos horários e programação, e assim que começou o reboliço peguei na máquina e juntei-me à população que esperava a chegada da procissão à Igreja de Balide.

Eram 17h e já as ruas estavam fechadas ao trânsito, ladeadas com enfeites artesanais feitos com ramos, folhas e flores, pela população dos bairros por onde passa a procissão.

Na estrada, no chão, um tapete de tais indica o caminho a ser pisado pelos Santos e seus acompanhantes. Nas imediações da Igreja, toda decorada e preparada para receber a celebração que se aproxima, já centenas de pessoas esperam, entretidas entre música, brincadeiras de crianças, bebida, comida e últimos preparativos.

Foi aqui que escolhi ficar, fotografar, e esperar pelo mesmo que todos os que ali estavam.

Por volta das 21h chegam a Cruz Jovem e a Nossa Senhora Peregrina, acompanhadas por centenas, senão milhares, de pessoas de todas as idades e extratos sociais, bandas e grupos tradicionais, bandeiras, estandartes, trajes e fardas.

O som era impressionante, tambores marcavam o ritmo.

O silêncio, ainda mais impressionante era, quando os tambores cessavam.

Intercalado com cânticos cristãos, orações e música tradicional, a comitiva entrou na área envolvente à igreja saudada por toda a gente.

Seguiram-se a missa, os discursos, as orações, e a festa continuou pela noite dentro… Pelo dia fora, e outra vez pela noite dentro, pela semana inteira…até, passados sete dias, seguir o seu rumo até à próxima igreja missionária.

Às 22h fui para casa, como já referi, ao lado da Igreja, ainda a tempo de dar banho e deitar a minha filha que acabou por jantar só com o pai. Ainda meio abalada com tamanha demonstração de fé e espírito comunitário, só passado algumas horas me dei conta de que o som de fundo era constante. Os tambores, os cânticos e as orações entravam-me pela casa dentro, potenciados por um megafone e colunas, e faziam vibrar tudo o que não estivesse fixo à parede ou ao chão.

Foi uma semana assim.

Uma experiência única, que chegando ao ponto da abstracção, me fez sentir que estava no meio da selva, no meio de uma celebração ritualistica, num país cheio de idiossincrasias e particularidades muito especiais, que fazem valer a pena por cá passar.

Raquel Belli

_________

[EN]

2015

The Cruz Jovem and Nossa Senhora Peregrina runs this year through all parishes and missionary chapels for the Commemoration of the 500th Anniversary of the Portuguese missionaries in Timor, which entered in Lifau - Oecussi enclave of East Timor around 1515.

I already knew about the soon arrival of the Cruz Jovem to Balide. I live next to the church. Almost every day I hear bells, choirs, prayers and, in recent days, rehearsals of brass bands and traditional groups. I tried to get some information about schedules and as soon as the commotion started I got my camera and joined the people who waited for the arrival of the procession at Balide Church.

Somewhere around 5 pm the streets were already closed to traffic, decorated with handmade ornaments made with branches, leaves and flowers by the population of the districts where the procession goes through.

On the road and on the floor, a mat indicates the path to be trodden by Saints and his companions. In the vicinity of the church, all decorated and ready to welcome this celebration, there were hundreds of people waiting, entertained by music, children playing, drinks, food and some last minute preparations.
It was here that I chose to stay,  waiting for the same as everybody.

Around 9pm the Cruz Jovem and Nossa Senhora Peregrina arrived, followed by hundreds of people of all ages and social classes, bands and traditional groups, flags, banners, costumes and uniforms.

The sound was impressive, drums marked the pace.

The silence was even more impressive when the drums ceased.

Interspersed with christian songs, prayers and traditional music, the group entered the area surrounding the church and were welcomed by everyone.

Followed by Mass, speeches and prayers the party continued into the night….through the next day and again through the next night…..through the whole week…until, seven days later, it takes its course onto the next missionary church.

At 10pm I went home, as I mentioned before, next to the Church, still in time to bathe and throw my daughter in bed which turned out to dine alone with her father. Still half shaken with such demonstration of faith and community spirit, it took me a few hours to realize that the background noise was constant. The drums, the chants and prayers would enter through me house, boosted by megaphones and loud speakers making the house shake like it wasn´t fixed to the ground.

It was a week like this.

A unique experience, that getting to the point of abstraction, made me feel that I was in the middle of the jungle, in the middle of a ritualistic celebration in a country full of idiosyncrasies and special characteristics that make it worthwhile stopping by.

Raquel Belli

Using Format